quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

amoretto

Tenho uma febre de alma que não me ousa passar. E quando tento descarregar em gotas o sofrimento ele acaba sempre por cair-me nas mãos como cera quente. Perco o domínio de mim nas esquinas de esbranquiçadas loucuras e sacudo em vão todo o medo que sou. Não percebo e não quero compreender. Esgoto num segundo a fricção que fazem todas as palavras quando atiradas juntas na procura de um sentido. E relâmpagos chovem das verdadeiras realidades.

Hoje casais de beijos flutuam de mãos dadas sobre os bancos de jardim. E eu ainda quero aproveitar o pôr-do-sol.

sábado, 10 de fevereiro de 2007

primo

Estamos a 10 de Fevereiro de 2007 e decidi-me finalmente a começar. Há qualquer coisa nisto de soltar amarras nas palavras que me leva a ficar nervosa, a desejar ter realmente algo que dizer. E sei que não o posso prometer, não sempre.
Um primeiro post é como uma espécie de “statement”, algo que anunciamos ao mundo e serve como capa plástica para todas as idiossincrasias que podemos pressagiar. Confesso que hesitei muito antes de tornar esta decisão o mais consciente possível: tentei estender esta vontade até às entranhas de todos os grafemas, perceber se desta vez é um desejo concretizado por mim. (Sim, tenho de confessar-vos desde já que não é a primeira vez.)
O bom de um blogue, o seu objectivo primordial é o crescimento que faz connosco e que fazemos com ele, o incentivo mútuo que é escondermo-nos por detrás de um ecrã enquanto sentimos verdadeiramente a protecção dos sentidos ambíguos que se escondem por fora de cada teia de letras conjugadas. Um blogue é uma missão inconsciente de assumirmos o que e quem queremos mostrar.
Mas estou a perder o rumo do que quero dizer…
A verdade é que não espero que este blogue seja um reflexo pegado de mim, um salto no espelho de páginas soltas em noites em branco: tenho demasiada consciência de que escrever é um escape a um mundo de horizontes restritos que a escrita consegue quebrar. Não sei pintar, não componho, escrever é a única coisa que ainda ouso tentar.
Este blogue não tem qualquer pretensão. Bem, para ser completamente sincera talvez tenha, mas esse é um critério que apenas se encaixa em mim. O que quero dizer é que não sou escritora ou jornalista, não sou comentadora em nenhum desses programas badalados de rádio ou televisão. Sou apenas alguém que sente tão intensamente que não se consegue conter.
Não sei que rumo este espaço vai tomar e por isso recuso-me desde já a dar-lhe qualquer definição. Não seria correcto, não tenho essa vontade.
Quem quer que venha a ler este blog nunca tente torná-lo literal ou dar-lhe a importância que não tem. É apenas um “depósito” de teorias e de ideias, de sonhos convertidos a uma importância de nada.
Para aqueles que me acharem demasiado séria, mais uma vez vos digo, não me levem literalmente: a escrita é um jogo, um prazer absoluto, talvez o único caminho em que agora posso ser livre.
Acima de tudo este blogue corresponde à satisfação máxima de uma curiosidade, a minha capacidade de explorar o limite e ser fiel ao que sou. É uma maneira de me encontrar nos dias perdidos e nos sentimentos que tendemos a esquecer.
E sim, se tudo correr bem este será o primeiro de muitos outros posts, o impulso inicial de muitas outras vontades que me levarão longe no percurso para lado nenhum. Como dizia um amigo, um blogue não é mais que essa busca de um refúgio para tudo aquilo que não temos em quem depositar. E há tanta coisa que se encaixa no que não se enquadra em lado nenhum…
Agora acho que estou a chegar ao fim do que queria dizer. A criação deste blogue não foi um momento esperado, não se pode dizer que tenha sido anunciado, simplesmente aconteceu. Como uma necessidade.
Agradeço a todos aqueles que directa ou indirectamente me incentivaram ( e mesmo a todos os que o tentaram impedir).
Independentemente de tudo o que há-de vir, com um longo post escrito – e porque não dizê-lo? – a medo, considero-o inaugurado.

Deste lado vou esperar sempre por vocês: as vossas opiniões, críticas, ilusões ou desilusões, verdadeiros achaques ou ataques de raiva, afrontamentos ou critérios de validade, pensamentos do dia ou inutilidade de emoções: chamem-me pretensiosa, mas quero sentir-vos aqui, comigo. Não se inibam de comentar. Este espaço é vosso também.

E a loucura começou…